Ouvidor Geral volta a dizer que policiais lideram grupo de exterminios em Alagoas

Vigilantes contratados por grupos de extermínio, comandados por policiais. Mortes em série de adolescentes na tríplice fronteira. Execuções sumárias de homossexuais no Nordeste do país. Omissão de investigadores diante de mães desesperadas.

O retrato da violação de direitos humanos, escondido sob inquéritos nebulosos ou inacessíveis até mesmo ao Ministério Público, fica estampado por centenas de denúncias que chegaram nos últimos três anos à Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, revela reportagem publicada na edição do GLOBO deste domingo.

Em pelo menos seis estados - Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Goiás, Mato Grosso e São Paulo -, a existência de grupos de extermínio está caracterizada, de acordo com o ouvidor Fermino Fecchio Filho.

Catalogadas em Brasília, as denúncias de brasileiros sem rosto conhecido ou notícias que se perdem no turbilhão de casos de omissão ou abuso de autoridade levaram o ouvidor a concluir que os grupos de extermínio estão disseminados pelo país. Segundo ele, as violações aos direitos humanos são alimentadas por duas falhas estruturais do sistema: a negligência do Judiciário e o corporativismo policial.

Grupo de extermínio é geral, é no Brasil inteiro. Não tem grupo de extermínio se não tem polícia envolvida. O que mais choca são os autos de resistência, seguida de morte. Você não tem laudo de local, não tem laudo de balística.

A maior causa mortis é a caminho do hospital, mas ele já está morto. Quando você consegue um laudo, vê que são pessoas que morreram com 12, 20 tiros. Que socorro foram prestar? Foram desmanchar o local do crime --- afirma o ouvidor.

Policiais responsáveis pela morte de moradores de Rua

Em Maceió (AL), mais de 30 moradores de rua foram assassinados apenas no ano passado. Para o governo do estado, todos foram vítimas de disputas do tráfico. Ao analisar caso a caso, com o apoio da Força Nacional de Segurança, o ouvidor chegou a outra conclusão:

- Um ex-PM é responsável por duas dessas mortes. Na morte de quatro deles tem dois investigadores da Polícia Civil envolvidos. Tem um vigilante responsável por três mortes. Vigilante é terceirização de execução - afirma.

De acordo com o ouvidor, cidades como Rio de Janeiro e São Paulo também estão sob ameaça constante. Crimes como a chacina de Acari (RJ), com 11 mortes, ou os 40 assassinatos na Baixada Santista (SP), em 2008, nunca foram esclarecidos. Mas as principais violações ocorrem no Nordeste do Brasil.

Em Alagoas

Só no ano passado, 39 moradores de rua foram assassinados em Alagoas, e os crimes ainda não foram esclarecidos. Depois da pressão do Ministério Público Estadual, da Polícia Civil e da imprensa, desde dezembro de 2010 não foi registrada qualquer morte.

- O dono de uma sorveteria ameaçou um morador em dezembro. Disse que ele não ficaria vivo. O ameaçado procurou o Ministério Público. Chamamos a imprensa. O dono da sorveteria voltou atrás, chamou o morador de louco. A pressão ajudou - disse o promotor da área de Direitos Humanos do MP, Flávio Gomes da Costa.

Segundo ele, seis pessoas foram presas, acusadas pelos crimes, e não ficou constatada a ação de grupos de execução. Costa cobra compromisso dos gestores com populações de rua.

A polícia descarta crimes de execução. Acredita em "ações isoladas" ou brigas por causa de drogas. Em 83% dos casos, segundo o delegado-geral adjunto, José Edson, as vítimas tinham envolvimento com drogas.

A maioria dos moradores de rua perambula pela área nobre da capital alagoana. Os dados chamaram a atenção porque Maceió está, desde 2007, à frente da estatística nacional de homicídios, segundo o Mapa da Violência do Instituto Sangari.

- A explicação deve vir da investigação. Existem ou não grupos de extermínio? Depois da divulgação, os assassinatos pararam. A polícia alega que os moradores eram envolvidos com drogas, mas eles não deixaram de ser gente. Tem que existir apuração - diz o presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Everaldo Patriota.

Fonte;Cadaminuto

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