Os 94 anos de Maria Mariá, filha ilustre de União dos Palmares
Natural da terra de Zumbi e Jorge de Lima, a educadora, folclorista, historiadora, jornalista, colecionadora e ativista cultural Maria Mariá..
de Castro Sarmento nasceu nos arredores da cidade de União dos Palmares, num povoado onde se localiza a Usina Laginha, no dia 16 de junho de 1917.
Seu pai foi o tabelião da cidade, Sílvio de Mendonça Sarmento, e sua mãe, Dona Ernestina de Castro Sarmento. Dessa união nasceram - além de Mariá - Maria Luísa, Paulo, José Sílvio, Luís e Maria Sílvia. Orgulhosa de seu nome de família – de Castro Sarmento – herança que remonta do tio-bisavô Coronel Basiliano Olíbio de Mendonça Sarmento (grande latifundiário da região, viveu de 1846 a 1931) e do avô paterno, o coronel Salustiano Tavares de Mendonça Sarmento, preservava com zelo e respeito o legado que recebera, considerando necessário perpetuar esse nome como uma tradição local e uma forte herança política, social e cultural da cidade palmarina.
Fez os primeiros estudos em União dos Palmares, no tradicional Grupo Escolar Rocha Cavalcanti e, em seguida, foi para Maceió completar a sua formação, cursando a escola Normal. É fato que nos idos de 1930 a possibilidade de as mulheres estudarem ainda é muito pequena; de maneira que sair da cidade natal para freqüentar uma escola – o curso de formação de professora primária era o que condizia às mulheres – fora dos domínios paternos significava um grande avanço para os costumes locais, o que já distingue Mariá das suas contemporâneas.
Autodidata, amplia seus conhecimentos em vários sentidos, passando a colecionar e a ler avidamente tudo o que lhe chega às mãos como revistas, jornais, o periódico Seleções e, principalmente, lendo e relendo inúmeras vezes escritores como os russos Tolstoi e Dostoievski, os franceses De Saint Exupéry e Emile Zola, os portugueses Camões, Eça de Queirós e Florbela Espanca e os brasileiros Machado de Assis, Érico Veríssimo, Jorge Amado, José de Alencar e Monteiro Lobato, entre vários outros.
A partir de então, torna-se uma referência como professora e como detentora da cultura local. Era comum ser solicitada para redigir discursos, falar em público e resolver dúvidas de gramática. Com essa prática, recebeu na cidade a alcunha de “dicionário ambulante”, epíteto que a envaidecia a ponto de dizer que não trocava sua escola normal por nenhum curso superior. Muito mais tarde, em 1960, em vista do seu permanente desejo de ampliação de conhecimento, conclui o curso técnico de contabilidade.
Mulher de muitos “instrumentos”
A vida profissional de Maria Mariá se inicia em janeiro de 1943, quando é nomeada professora estadual das primeiras letras, indo exercer a função inicialmente como estagiária no povoado da Fazenda de Santo Antônio, nos arredores de União dos Palmares. Para sua alegria, em 1944, findo o estágio probatório, é transferida para o Grupo Escolar Rocha Cavalcanti, a velha escola onde recebera os primeiros ensinamentos.
Nessa escola, Mariá implanta várias modificações: primeiro aboliu o uso da palmatória, que identificava como "um instrumento de tortura"; e segundo, não achava necessário que os alunos, para irem ao banheiro, tivessem que apresentar uma pequena pedra que servia de controle para o professor só liberar a saída de um aluno com o retorno do outro. Mariá via essa prática como mais uma forma de repressão ao comportamento juvenil.
Em 1955, é nomeada diretora titular do Grupo Escolar Jorge de Lima e, no ano seguinte, também vai ministrar aulas de gramática no Ginásio Santa Maria Madalena, instituição pertencente à rede particular da Campanha de Escolas da Comunidade - CNEC.
Além dessas atividades docentes, em 26 de fevereiro de 1963 é designada para exercer a função gratificada de inspetora regional da 7ª inspetoria. Essa experiência faz com que tenha uma visão mais ampla do problema da educação no Estado de Alagoas. Mesmo exercendo uma função gratificada, Mariá se revolta com o descaso com que o ensino era tratado, com prédios sucateados, carência de professores, material de ensino inexistente e, principalmente, a falta de compromisso das autoridades com a escola pública.
No dia 28 de fevereiro de 1993, às 10:20h de um dia ensolarado de domingo, vítima de um infarto agudo do miocárdio, aos 76 anos de idade, morre Maria Mariá. Solitária, desiludida e desencantada, a guerreira, afinal, despe as armas de combate. E, assim como viveu, desnudando-se diante da vida, assim também morreu. Ao ser encontrada morta, debruçada sobre o penteador, Mariá estava totalmente despida. A simbologia desse último gesto parece representar o esforço derradeiro dessa guerreira que lutou até o fim para vencer preconceitos e tabus.
Maria “a mágoa” parte para se torna Maria “a estrela soberana”. A partir de então, União dos Palmares não mais se inscreve apenas como a cidade de Jorge de Lima e de Zumbi, mas também como a terra de Maria Mariá.
Fonte:Aterradaliberdade
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